O Limite Da Imaginação | Por Jorge Marques

Quantas vezes você não se viu totalmente perdido em seus pensamentos como se estivesse no mundo da lua? Bem, a imaginação é uma das ferramentas mais incríveis que os seres humanos têm nas mãos. Ou eu deveria dizer dentro do crânio? O fato é que a imaginação continua um mistério encantador para cada um de nós. Com um pouco de filosofia e muita imaginação, poderemos compreender um pouco mais sobre este mistério tão intrigante para a humanidade. Neste texto, vamos seguir em  um breve passeio por essa fantástica habilidade humana: a imaginação!

Imagem: pixabay.com
 

Se eu fechar meus olhos agora, pode ser que várias imagens comecem a invadir minha mente como se eu estivesse sonhando. Eu posso imaginar a mim mesmo deitado em um sofá muito confortável. Ou quem sabe, eu posso me imaginar numa praia incrível. Ou, talvez, numa viagem de férias com a minha mulher. Não é de verdade, mas, pelo menos é de graça!

Este pequeno experimento pode nos revelar o enorme poder da imaginação, que é capaz de nos levar a mil lugares, de nos fazer imaginar milhares de situações possíveis. É como se não houvesse limites para a imaginação. Infelizmente, as coisas não parecem assim tão impressionantes quando começamos a refletir com um pouco mais de cuidado.

Sempre que pensamos numa criatura mágica, como um pégasus ou um dragão, por exemplo, nossa imaginação é tomada por imagens fantásticas e figuras incríveis: é como se estivéssemos dentro de um filme. No entanto, olhando com um pouco mais de calma, veremos que essas imagens são muito semelhantes a tudo que já vimos em algum lugar: pode ter sido na TV, num livro, no cinema. Não importa, as referências estarão lá. O lendário Pégasus da mitologia grega, por exemplo, é baseado na aparência dos cavalos e dos pássaros, criaturas do mundo real que são bastante familiares para cada um de nós. Desta forma, a nossa imaginação parece estar limitada a coisas que já conhecemos.

Toda vez que tentamos pensar em algo completamente inexistente, parece que nossa mente nos prega uma peça muito engenhosa. Isso porque, assim como o pégasus, que contém elementos de um cavalo do mundo real e elementos de um pássaro também do mundo real, as coisas da imaginação parecem atreladas a coisas que, de fato, existem na realidade, de maneira que a imaginação parece ser absolutamente dependente daquilo que absorvemos pelos nossos sentidos, especialmente pelo sentido da visão. Diante disso, a conclusão mais fácil de tomarmos é que a imaginação é sim limitada, infelizmente, e que o limite seja, provavelmente, o limite das nossas experiências.

Uma noção mais clara sobre essa limitação pode surgir diante de nós se considerarmos as pessoas que nunca enxergaram na vida. Pessoas cegas jamais poderão imaginar a aparência de um ser mitológico devido a sua total carência de imagens definidas em sua memória. Obviamente, a diferença das características físicas entre os cegos e as pessoas que enxergam é o que justifica essa afirmação. E com ela nos aproximamos ainda mais da tese de que a experiência é o limite.

Entretanto, mesmo sem possuirem um acervo de imagens mentais, os deficientes visuais dispõem de uma ferramenta que nós também possuímos em nossas cabeças, algo que é muito curioso sobre a imaginação humana: nossa capacidade de fantasiar a respeito das coisas utilizando apenas a linguagem falada. E isso significa qualquer tipo de linguagem, qualquer idioma, libras, sinais, qualquer forma de linguagem que dê corpo e forma ao nosso pensamento.

Mesmo sem experiências visuais que possam servir à imaginação, os cegos são capazes de compreender muito bem a ideia de um pégasus ou de um dragão. E assim, imaginar essas e outras criaturas apenas por meio de ideias, noções, definições, etc. Na verdade, os deficientes visuais são capazes de compreender inúmeros conceitos a respeito do mundo, das ciências, da filosofia, etc, mesmo sem o uso de imagens. Não fosse assim, os cegos jamais poderiam estudar, não é?

Ok, até aqui já vimos que a imaginação pode ser limitada às nossas experiências visuais. Mas e no caso desse outro tipo de imaginação, uma forma de pensar apenas utilizando a linguagem falada? Bem, mesmo assim ainda podemos alegar que, independentemente de enxergarmos ou não, só conseguimos pensar em um conceito a partir de noções, ideias e outros conceitos que já existem em nossa consciência, isto é, que da mesma forma que só podemos conceber a aparência de um ser imaginário com base em imagens de seres que já conhecemos, também, só podemos formular conceitos com bases nas noções, crenças, ideias e conceitos que já possuimos.

Esta é uma objeção absolutamente válida do ponto de vista filosófico, reiterando a tese de que o limite da nossa imaginação é dado por nossas experiências. No entanto, o que chama a atenção neste problema é o fato de que somos capazes de compreender alguma coisa apenas de forma conceitual sem utilizar qualquer imagem mental para isso. Com essa noção em mente, podemos apostar que, apesar dos limites, nós podemos ir longe, muito longe, nas asas da imaginação.

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